Cinco designers, cinco artesãos e uma grande vontade de unir talentos para criar novas oportunidades. Esse foi o principal mote da Semana Criativa de Tiradentes, evento que reuniu 4 mil pessoas em torno de lançamentos de produtos, exposições, palestras, performances e encontros.

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Tiradentes, cidade mineira fundada no século XVIII, foi palco da 1ª da Semana Criativa.

Acompanhei de longe e com curiosidade a divulgação da Semana Criativa de Tiradentes. As primeiras postagens nas redes sociais indicavam um evento de design e artesanato na minha cidade histórica favorita. De pronto, me interessei pelo assunto e troquei mensagens de boa sorte com a jornalista Simone Quintas, organizadora do festival e ex-diretora da Casa & Jardim. Fomos concorrentes profissionais durante 15 anos –  período em que trabalhei nas revistas Casa Claudia e Casa Vogue, mas ver Simone inventando, longe das grandes corporações, formas de incentivar os talentos brasileiros me encheu de entusiasmo.

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O grupo de designers e artesãos reunido com os organizadores do festival, Simone Quintas (primeira fila à esq.) e Júnior Guimarães (segunda fila à dir.), no jardim do Centro Yves Alves.

Dez dias antes da grande estreia, recebo uma ligação com o convite para presenciar as atividades programadas de 26 a 29 de outubro. Fui e me encantei. Tiradentes parece ser o cenário ideal para receber esse tipo de experiência – não por acaso, a cidade sedia mais de 40 festivais de diversos temas ao longo do ano. Fundada no século XVIII, o município preserva ainda ruas de pedra e belos casarios desse período, além de oferecer ótima infraestrutura turística.

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As oficinas entre os designers e os artesãos aconteceram durante cinco dias nos meses de julho e agosto. “Nós nunca tínhamos trabalhado juntos e essa foi a oportunidade de conhecer outros ateliês daqui”, afirmou a designer Daniela Karam (à esq.), que há quase dois anos abriu loja e estúdio em Tiradentes.
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As fotos de João Bertholini receberam intervenções das cruzes de papel crepom feitas por dona Lília. Sobre a mesa de madeira, o pendente da nova produção de Wagner Trindade. A ambientação foi assinada pela Díptico Design.

O Centro Cultural Yves Alves foi o principal palco de palestras, bate-papos e da exposição dos produtos desenvolvidos pelos profissionais convidados. O encontro desses talentos, aliás, foi a parte da Semana que mais me cativou. Simone e o produtor cultural Júnior Guimarães, sócio da jornalista na empreitada, chamaram renomados designers para se unirem a artesãos locais de técnicas distintas. O objetivo era estimular a criatividade e desenvolver peças inéditas e autorais, que foram vendidas durante o evento.

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O artesão Wagner Trindade criou uma linha de terrários de latão para mesa e parede.

“Estou muito surpreso com o que eu consegui produzir, eles me deram uma direção e um novo rumo. Fiz produtos mais limpos e mais contemporâneos, pude também experimentar novos materiais e juntar esforços com outros artesãos. Foi muito rico ter essa mescla e deixou uma semente enraizada.” Waguer Trindade, o Waguinho.

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Para pendurar na parede, o terrário espelhado acomoda flores ou velas.
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“Procuramos estimular ao máximo o lado criativo deles para que desenvolvessem produtos originais”, explicou o designer Guilherme Leite Ribeiro. O terrário em formato de prisma surgiu em razão dos exercícios propostos durante as oficinas entre designers e artesãos.
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O suporte de latão dourado emoldura velas ou plantas.
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Waguinho contou com a orientação de Paulo Alves para criar este modelo de pendente.

Os encontros aconteceram em duas imersões de cinco dias, cada uma, num período de dois meses. Entre os designers estavam: André Bastos e Guilherme Leite Ribeiro, dupla do estúdio Nada Se Leva, Daniela Karam, Maria Fernanda Paes de Barros, do Yankatu, e Paulo Alves – esses dois últimos com lojas na Boobam. Já o grupo de artesãos foi composto por moradores do município: Expedito Jonas de Jesus, escultor de mármore; Maria Conceição de Paula, bordadeira; Rondinelly Santos, escultor da madeira; Wagner Trindade, expert em peças de metal; e Lilia Fonseca, responsável pela confecção das cruzes de papel crepom que decoram as portas das casas da cidade numa tradição católica renovada em 3 de maio, data em que se celebra a Santa Cruz.

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A cruz, tradicional símbolo de Tiradentes, foi incorporada ao rosário com contas de crepom unidas com trama de crochê.
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Daniela Karam (de pé) com as artesãs Maria (à esq. ) e Lília.

“A confiança foi crescendo com o passar das horas. A gente tomava café, trocava experiências, comia broa, biscoito de polvilho. Eu voltava para casa e ficava pensando no que o Expedito havia dito e aquilo, às vezes, mudava meu pensamento sobre o trabalho. Teremos sempre essa ligação por ter vivido essa história.” Daniela Karam, designer mineira

As oficinas também cumpriram a função de aproximar talentos, mostrando aos artesãos que juntos eles ganhavam mais força e incentivo. “Eles perceberam que poderiam produzir peças com mais autoria em vez de fazer o artesanato que todo mundo vê por aqui”, considerou André Bastos.

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“Eu nunca tinha trabalhado com pedra-sabão nem com latão e isso também abre um leque de possibilidades para meu trabalho como designer. Todos receberam nossas ideias com muito entusiasmo e sem essa confiança nada teria acontecido”, afirmou Maria Fernanda Paes de Barros, na foto acima com Waguinho.

A lição parece ter sido bem compreendida. “Os designers foram generosos conosco. Trouxeram novas informações com desenho mais limpo e apurado. Isso mexeu com a gente, pois estávamos acostumados a criar peças rebuscadas”, afirmou Waguinho, que por 50 anos produziu, com o pai, luminárias de estilo marroquino e agora pretende incluir modelos contemporâneos em sua linha de produtos. Com tantos resultados positivos, a Semana Criativa de Tiradentes já confirmou sua 2ª edição, prevista para acontecer entre 25 e 28 de outubro de 2018. Desde já, desejamos sorte e sucesso!

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Numa parceria entre Expedito, Waguinho e dona Maria, a caixa com base de madeira e tampa de mármore ganhou bordado floral. “Trataram a gente com muito respeito e abriram nossos olhos para coisas novas. Nunca tinha pensado em trabalhar com Expedito na pedra-sabão”, disse a bordadeira.
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Com pegador de madeira talhada, os espelhos de mão foram executados por Rodinelly Santos, conhecido por Nelinho.

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“Aprendi a esculpir a pedra-sabão com meu pai e meu pai aprendeu com o pai dele. A gente cresce com regras estabelecidas. Daí, chegaram essas pessoas com ideias malucas (risos) e percebi que elas propunham coisas diferentes. Vi que poderia criar peças novas para meus clientes e me juntar com outros artesãos. Esse não era muito meu mundo, por isso me assustei no começo.” Expedito Jonas de Jesus, artesão mineiro.

 


Entrevista por Regina Galvão

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Visite o site da Semana Criativa de Tiradentes

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Visite a loja dos designers presentes na Semana Criativa de Tiradentes na Boobam:

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Publicado por:Regina Galvão

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