Desenho atemporal e marcenaria de alta qualidade são características marcantes dos móveis da dupla Thiago Antonelli e Thélvyo Veiga.
Para contar sobre a marca Jabuticasa, temos antes de falar da t+t – assim mesmo com minúsculas, a primeira empresa de Thiago Antonelli, brasiliense radicado no Rio de Janeiro desde os três meses de idade. A história começa em 2005 quando Thiago encontra o dinamarquês Thomas Mach no mestrado do Umea Institute of Design, na Suécia. Pouco tempo depois da conclusão do curso, os dois uniram esforços e experiências para produzir móveis de alma minimalista. Projetaram várias peças à distância até decidirem transformar a t+t numa coleção da Jabuticasa. “Apesar de eu ter essa forte vertente escandinava, desejava levantar também nossa bandeira”, afirma Thiago, que, em paralelo à t+t, fundou, em 2013, a Jabuticasa com Thélvyo Veiga, colega da faculdade de desenho industrial na Pontifícia Universidade Católica (PUC- Rio). “No ano passado, percebemos que não dava mais para continuar com as duas marcas, entramos num acordo com o Thomas e a t+t virou uma série de mobiliário”, explica. Nesta entrevista feita por Skype e troca de e-mails, Thiago Antonelli fala sobre as duas empresas e sua trajetória profissional.

Como funciona a parceria entre você e o Theo?
Eu fico no Rio e respondo mais pelos desenhos dos móveis e pelo marketing da empresa, apesar de não ter formação nessa área. Theo, filho de pai marceneiro, mantém a marcenaria em Miracema, no interior fluminense, e acaba ficando responsável pela produção das peças. O fato de estarmos em cidades diferentes ajuda e atrapalha. Ajuda porque não temos conflitos nem desgastes, mas eu gostaria de estar mais próximo da execução dos móveis. Procuro viajar pelo menos uma vez por mês para encontrá-lo.
Vocês se preocupam em fazer peças de desenho atemporal?
Não temos essa pretensão. Acima de tudo, temos de querer aquele produto dentro da nossa casa. Essa é a nossa bússola e o que nos guia. Se for atemporal, ainda melhor.

“A mesa tt-11 é um produto de 2010 e foi o resultado da troca de desenhos entre Thomas e eu. Foi o primeiro item da t+t e o nome revela nossa tentativa de contar o número de conceitos até chegar ao modelo 11, o final. O primeiro protótipo da mesa foi produzido pela oficina do Rodrigo Calixto, colega da faculdade.”
Que experiências profissionais anteriores vocês trazem?
Theo e eu trabalhamos juntos numa ferramentaria ligada à indústria metalúrgica, e lidamos com moldes de aço e injeção de plástico. Era um ofício bastante técnico, mas o processo de fabricação era fascinante. Fiquei quatro anos lá até decidir fazer mestrado na Suécia, de 2005 a 2008. O Theo, por sua vez, seguiu trabalhando para a indústria.
“O criado-mudo Interseção foi o primeiro produto da Jabuticasa e teve bastante influência da t+t. Thomas, meu antigo sócio, gostava de afinar os pés e chegava a desenhos impossíveis, sempre negociávamos a espessura das peças. Criei o X na lateral do criado, quase como um ornamento. Tem a função pendurar o fio do carregador do celular.”
Quando você começou a desenhar móveis?
Antes do mestrado, eu trabalhei na Osklen como responsável pela coleção Celebrate Wood, sob a orientação da (Andrea) Zigoni e do Oskar (Metsavaht). O ponto central do projeto era a sustentabilidade e o lifestyle. Fizemos alguns produtos, mas a parceria da Osklen com a empresa de móveis de madeira não deu certo e a coleção saiu de linha.
“A banqueta Le Clerc, de 2013, tem grande carga emocional porque eu a desenhei depois de a minha filha ter nascido. Ela dava os primeiros passos, o que me fez voltar ao universo lúdico da infância, com circos, pernaltas e piratas. Isso me influenciou no desenho desta peça, cujos pés remetem às pernas de pau.”
Depois do mestrado em desenho industrial, você estagiou em alguns escritórios de design em Amsterdã e Munique. Quais eram eles?
Fiz mestrado no Umea Institute of Design, que está entre as melhores escolas de design do mundo. Tenho muito orgulho de ter sido aceito lá e essa experiência foi certamente um divisor de águas na minha carreira. Durante o curso, muitos alunos optam por “trancar” um ano e fazer os estágios. Eu fiz isso e fiquei seis meses na Springtime, em Amsterdã, e seis meses na Designafairs, em Munique.
“No aparador tt-27, eu desejava dar contraste ainda maior entre o painel e o corpo do móvel, mas Thomas não gostava da ideia. A textura das madeiras na porta tem muita influência minha, já o toque vintage é do Thomas.”
Você e Theo usaram o conhecimento da metalurgia em algum projeto?
Introduzimos o processo de fundição do alumínio na escrivaninha AL13, e isso foi bastante desafiador. Theo e eu gostamos de processo, temos isso no DNA. Fazemos tudo com calma, depurando o projeto. Eu desenho muito à mão. Na Suécia, eles prezam muito pelo desenho à mão, o projeto só vai para o computador depois de rascunhar muito. Não queremos lançar produtos só para ter uma novidade e atender o anseio do mercado.
“A escrivaninha AL13 é um projeto recente. Theo e eu queríamos fazê-lo num curto prazo, mas essa vontade inicial logo esbarrou no nosso gosto em gastar tempo no processo. Em algum momento na prancheta, surgiu a forma quadrada da estrutura da mesa, que é de alumínio. Foi meio que natural querer elevá-la do piso, colocando os dois pezinhos de madeira como uma espécie de pedestal.”
A sua casa funciona também como estúdio…
Sim e também como showroom e academia de escalada. Tenho um murão enorme aqui atrás. Moro do lado da Pedra da Gávea e gosto muito de fazer escaladas. Só parei quando tive um sério acidente, mas retomei recentemente a prática do esporte.
“Tenho carinho especial pelo banco Feltro, que resume a essência de nosso design. Fomos eliminando todos os excessos e ângulos até chegar a esse resultado.”
O Theo tem um nome complicado, né? Qual a origem?
Thélvyo é a junção do nome da mãe, Telma, e do pai, Olívio. Tem coisa mais brasileira que juntar nomes? A Jabuticasa poderia ser jabuti + casa (risos), mas o nome veio mesmo da jabuticabeira.
Quais são os planos de vocês para o próximo ano?
Vamos focar nossas energias numa nova cadeira. No meio do caminho pode ser que apareça alguma outra novidade, mas o principal lançamento de 2018 será uma cadeira.
“A cadeira tt-39 representa intencionalmente qualidades como lúdico e robusto. Para a criação de seu primeiro protótipo, já contávamos com a sagacidade de Theo, que coordenou a execução da peça-piloto. As dez primeiras unidades foram executadas por marceneiros do Rio, pois ainda não tínhamos nossa marcenaria. A banqueta surgiu depois, em 2014, como um desdobramento da cadeira.”
Entrevista por Regina Galvão
Fotos: Eduardo Magalhães | Retrato: Gabi Carrera
Visite a loja Jabuticasa na Boobam:
Parabéns! Irado este artigo.
Prezado Thiago! achei maravilhosa sua obra , vejo que ainda veremos muito mais…abs
Inspirador e muito boa a leitura !