Com o intuito de aproximar o artesanato do consumidor final, a OCA comercializa trabalhos de cerca de 20 artesãos, a maior parte deles de lugares de difícil acesso no interior de Pernambuco.

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Durante os anos em que atuou como arquiteto, Leonardo Allouchie sempre esbarrava na mesma dificuldade: ter acesso à arte popular de qualidade. “Meus projetos seguiam uma arquitetura autoral e regionalista, brasileira, por isso buscava inserir artesanato, e fui percebendo o quão difícil era chegar a esses artistas e seus locais de trabalho”, explica ele.

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O arquiteto Leonardo Allouchie criou a OCA com o intuito de contribuir com a venda e distribuição do artesanato popular brasileiro.

Nasceu, então, a OCA. Com o intuito de diminuir a barreira de acesso ao artesanato, a empresa oferece peças de arte popular brasileira de diversos artistas selecionados a dedo por Leonardo. Para entrar no time, que hoje soma cerca de 20 nomes de diversos cantos de Pernambuco e de algumas outras regiões do Nordeste, o artista precisa fazer um objeto singular e autoral.

“Busco a diversidade, por isso o único critério curatorial, além da qualidade e autenticidade, é que a arte seja feita totalmente à mão, sem o uso de máquinas”, conta Leonardo. “Reúno pessoas que nasceram com o dom para um determinado trabalho e que aprimoraram a técnica ao longo dos anos. Eles não deixam nada a desejar em relação aos eruditos”, completa.

O arquiteto mora em Curuaru, município de Pernambuco conhecido pela rica produção de artesanato. Apesar da localização propícia ao seu negócio, ele conta que chegou ao local há sete anos, quando a OCA ainda não era nem uma ideia: “Vim para cá para comandar a filial de uma empresa voltada para a construção de casas populares”. Leonardo saiu da empresa, mas nunca mais deixou Curuaru.

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Leonardo visita os artesãos “in loco” para conhecer seus processos criativos e também os costumes e culturas nos quais estão inseridos.

Mesmo que em uma região privilegiada na produção de arte popular, encontrar os artesãos não é tarefa fácil. A maioria mora em lugares distantes, cujos trajetos são percorridos por longas estradas de terra e onde o acesso à internet e ao telefone é raro. “Dificilmente conseguimos contato à distância. Precisamos sempre chegar pessoalmente até eles”, afirma. Segundo o arquiteto, essa etapa é fundamental. No primeiro contato, Leonardo conhece os artistas, suas famílias, o processo criativo, suas influências, a origem do material utilizado e a história de cada peça. “Eu gosto de sentar com eles para tomar um café, e de viver e sentir os costumes e a cultura nos quais estão inseridos”, completa.

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Nascido em Sertânia, em Pernambuco, Marcos Paulo Lau da Costa, retrata a aflição provocada pela seca, ao extrair da madeira figuras esqueléticas carregadas de dramaticidade e melancolia. Na foto, a peça Cachorro Triste.
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O cachorro esculpido em madeira, uma das obras mais emblemáticas de Marcos, nos remete à Baleia, a cadela da obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos

Desses encontros Leonardo sai cada vez mais apaixonado pela arte popular brasileira, mas também consciente de que o propósito da OCA vai além do intuito comercial de vendas e distribuição de peças pelo Brasil. “Descobri que muitos artesãos estavam deixando de trabalhar porque não conseguiam sustentar a família com o ofício. A OCA pode vir a ser um meio para incentivar e preservar a cultura popular brasileira”, diz.

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Trabalho de cerâmica policromadada do artesão Ademilson Eudócio (filho do Mestre Manoel Eudócio (1931-2016), um dos expoentes do Alto do Moura, maior centro de artes figurativas das américas).

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A importância da empresa foi vislumbrada também pelo Armazém da Criatividade – o programa, que apoia o desenvolvimento de startups, é braço do parque tecnológico Porto Digital, fundado com o intuito de revitalizar o bairro histórico Recife Antigo. A OCA foi efetivada no programa e ganhou, assim, o suporte de uma equipe especializada para o desenvolvimento de seu plano de negócios.

“Foi por meio desse projeto que descobrimos a Boobam. Acreditamos muito na importância do papel de cada stakeholder no processo. O do nosso parceiro e artesão é fazer sua arte com qualidade, o nosso é fazer uma bela curadoria e serviço de logística, e a Boobam pode nos ajudar, entre outras coisas, a dar visibilidade ao nosso produto”, comenta o arquiteto.

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Valfrido de Oliveira Cezar, mais conhecido como Mestre Fida, nasceu na comunidade Quilombola do Timbó, em Pernambuco. Ele faz esculturas de madeira, entre as quais os Ex-Votos, peça muito reverenciada pela arquiteta Janete Costa.

A empresa trabalha com produtos a pronta entrega, de modo que cada artista entrega o volume de objetos adequado ao seu ritmo de produção – uns demoram 15 dias para fazer um único item, outros fazem diversos por semana. Em breve, a OCA vai trabalhar com artesanatos de todo o Brasil. Os planos incluem ainda a contribuição com os artistas na produção das peças. “Quero trabalhar pela preservação da cultura e da arte popular brasileira, mas também pela inovação dela, muitas vezes atuando junto com os artesãos e contribuindo com ideias para a concepção de um artesanato novo”, finaliza Leonardo.

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As Cabeças de Cida, produzidas pela artesã Maria Aparecida de Lima Silva, a Cida, estão disponíveis em diferentes tamanhos.

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Visite a OCA na Boobam:

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Jornalista convidada: Flora Monteiro
Matéria exclusiva para o Blog Boobam

Publicado por:Flora Monteiro

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