Num passeio ao centro cultural Japan House, inaugurado no sábado (6 de maio) em São Paulo, a designer Miki Inoue (à esq.) e a arquiteta Lea Yuko, criadoras das luminárias do Design Kiiro, reviveram experiências do passado e histórias compartilhadas pelos pais e pelos avós japoneses.

No número 52 da av. Paulista, a Japan House proporciona uma experiência que estimula os sentidos. E não só isso, para os milhares de descendentes de japoneses que vivem no Brasil, o centro cultural doado pelo governo do Japão – Londres e Los Angeles também terão suas sedes – resgata memórias afetivas. Foi o que aconteceu com a designer paulistana Miki Inoue, filha de mãe e pai nascidos em Hiroshima e Kyushu respectivamente, ao visitar o local.

“Aqui, me senti como na primeira vez que entrei numa loja de departamento no Japão. Quando o elevador se abriu na seção de brinquedos, fiquei boquiaberta com todas aquelas maravilhas”, Miki Inoue.

A arquiteta Lea Yuko, sócia de Miki na Design Kiiro, também se sentiu ali viajando no tempo. Diante de uma vitrine recheada de peças infantis feitas de bambu, surpreendeu-se: “Está vendo estas hélices? Brincava muito disso quando era pequena”. A dupla nissei se encantou ainda com o trecho do filme O Conto da Princesa Kaguya (2013), do cineasta Isao Takahata, do Studio Ghibli – uma das referências mundiais em cinema de animação –, projetado no teto do espaço circular construído no térreo com toras de bambu e equipado com tatames. “Meus pais alugavam desenhos japoneses para eu assistir em casa”, disse Miki, que é fluente em japonês.


No edifício de 2,5 mil m² que passou por um retrofit comandado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma em parceria com o escritório paulistano FGMF, a dupla encontrou ainda indumentárias de samurai, cestos com trançados milenares e peças do cotidiano das famílias japonesas, como os hashis e as colheres de servir arroz, alimento tradicional na culinária do país, e os utensílios para a cerimônia do chá. “A bebida faz parte dessa cultura, meus pais costumam tomá-lo diariamente”, afirmou Lea, cuja mãe é japonesa e o pai, brasileiro. Saborear o matcha, por sinal, promete ser uma das atrações do novo endereço, que abriga o imi Café, com doces especiais e ervas de diferentes qualidades, e um restaurante comandado pelo aclamado chef Jun Sakamoto.

Além da gastronomia oriental, o lugar dispões de duas lojas: a Japan Madoh, com produtos de design, moda e eletrônicos importados do Japão, e a Furoshiki, que reúne lenços estampados de três tamanhos para embalar presentes e transportar objetos. “Usamos também essa técnica tradicional de embrulho quando enviamos nossas luminárias para os clientes”, revelam. O logo do Design Kiiro – a marca significa energia das cores –, aliás, foi desenvolvido pelo artista Titi Freak em formato de carimbo, o chamado inkan, usado no Japão com o mesmo valor de uma assinatura.
Outro local que mereceu a atenção da dupla foi a sala multimídia, também no térreo, com quase 2 mil títulos divididos por temas: Arquitetura, Comer, Cultura, Crianças, Design, Estilo de Vida, Japão e Brasil e Tecnologia. “Minha vontade era de ficar horas e horas por aqui”, afirmou Lea, sentada num dos estofados de formato geométrico que compõem o ambiente voltado para um jardim de estilo zen assinado pelo paisagista Alex Hanazaki.

Veja a loja da Design Kiiro e as de outros designers com influência japonesa em seus trabalhos.
A maior surpresa da Japan House para Miki e Lea, porém, ficou reservada ao terceiro andar, onde a obra Conexão, do artista Chikuunsai IV Tanabe, domina o espaço expositivo com suas 5 mil tiras de bambu entrelaçadas, representando as vidas que se cruzam nesse encontro entre as duas culturas. A instalação integra a exposição Bambu – Histórias de um Japão, selecionada pelo curador e diretor Marcello Dantas para estrear a programação do centro cultural, cujo objetivo é trazer ao Brasil os mais relevantes criadores e empreendedores japoneses da atualidade nas artes, no design, na moda, na gastronomia, na ciência e na tecnologia.

Nessa mesma área, também repousam, até 9 de julho, a escultura Ponte em Círculo, de Shigeo Kawashima, produzida in loco e que simboliza o relacionamento entre os dois países, e os prismas elípticos de Hajime Nakatomi, considerado o artista da geometria. Ver de perto esse precioso acervo deixou Lea nostálgica. “Meu trabalho de conclusão de curso na faculdade de arquitetura foi sobre o bambu. O manuseio desse material é milenar e inspira flexibilidade, resistência e beleza. As tramas vistas aqui revelam uma conexão infinita entre o Brasil e o Japão. Isso, de uma certa forma, também está presente no nosso trabalho, pois os fios que formam as luminárias sugerem a infinidade de caminhos que nos conduzem ao futuro”, avaliou.
Com design de interiores pautado no minimalismo e em técnicas tradicionais japonesas como o washi (presente em alguns painéis de divisão), a Japan House favorece a quietude e a contemplação. “Aqui parece ser um oásis em meio ao corre-corre da metrópole”, considerou Kimi, que pretende retornar com a família para visitar mais uma vez o espaço. Com tantos atributos, será mesmo difícil aos transeuntes da mais famosa avenida brasileira resistir a uma parada neste templo contemporâneo japonês.


Bambu – Histórias de Um Japão
Até 9 de julho, na Japan House, na av. Paulista, 52
De terça-feira a sábado, das 10h às 22h
Domingo e feriados, das 10h às 18h
Entrada gratuita
O CONTO DA PRINCESA KAGUYA, apresentado numa edição de seis minutos na Japan House, será exibido na íntegra entre 2 e 17 de junho no CineSesc, na rua Augusta, 2075, em São Paulo.
Por Regina Galvão
Jornalista especializada em arquitetura e design, atuou como editora nas revistas Casa Vogue, Casa Claudia e Viver Bem.
Fotos Luiza Florenzano
Visite as lojas de designers com influência japonesa em seus trabalhos na Boobam:
Este site está cada vez mais fantástico, qualidade total, parabéns!
Valeu Cézar!! Muito obrigado pelos elogios! Abs
Parabéns pela reportagem, Regina
Prezados SENHORES
A JAPAN HAUSE, em São Paulo será com certeza um dos programas que farei com os meus alunos na nossa visita de pesquisa a Cidade SP.
O site já é maravilhoso, e Parabéns, bela matéria!! Deu muita vontade de ir a SP ver esta exposição.