Como é a dinâmica de criação como dupla?
Estamos esboçando alguma coisa nova todos os dias, com ou sem demanda. Algumas coisas começam em um croqui, outras começam com uma experiência feita com um pedaço de madeira na oficina… algumas coisas levam algumas semanas entre o primeiro esboço e o primeiro protótipo, outras levam anos…. Nessa dinâmica, a única regra é não ter regra.
A melhor e a pior parte de ser um designer?
A melhor parte é projetar, vivemos num constante exercício criativo, divertido e sem fim. A pior parte é passar madrugadas sem sono por conta das novas ideias que aparecem sem marcar hora.
Durante a nossa visita, vocês nos contaram sobre um novo processo de criação super curioso e bastante artesanal, que é o de fazer mock ups em escala real e depois scannear em 3D para refinar as linhas com ajustes em computação gráfica. Como surgiu esta ideia?
As novas tecnologias fabris que as indústrias vêm adquirindo estão abrindo inúmeras possibilidades construtivas que tendem a ser mais complexas para projetar. Para responder a essas demandas começamos a desenvolver novos processos projetuais e assim chegar a resultados mais interessantes e precisos. As complexidades na fabricação e nas formas também nos blindam um pouco mais em relação aos plágios – um problema que tem sido cada vez mais frequente.
Outra curiosidade sobre o trabalho de vocês é a brincadeira com as escalas, como as miniaturas e agora o projeto da poltrona gigante Pantosh. Contem mais sobre esses projetos.
As miniaturas foram decorrentes do nosso próprio método de projetar – às vezes fazemos peças em miniatura para testar encaixes, proporções e essas miniaturas são realmente encantadoras -inevitavelmente acabaram virando produtos…. Assim surgiu a miniatura da Poltrona Pantosh, depois resolvemos fazer uma Pantosh de quase 3 metros de altura durante um workshop com alunos do Senac RJ. Essas coisas são desejos, sonhos, vontades que fazemos e que sempre nos desafiam, trazem novas ideias, abrem possibilidades, desdobramentos…
A linha Ipanema, apresentada nas feiras IDA, MADE e Semana de Design 2016, lembram os calçadões das praias do Rio, em pedra portuguesa, desenhados por Burle Marx. Contem mais sobre a inspiração dessa linha.
O Rio de janeiro, sua arquitetura e natureza são naturalmente uma enorme influência para nós – buscamos sempre falar sobre nossa cidade e nossa cultura através das nossas peças – e assim foram surgindo linhas de peças, formas e cartelas de cores que remetem à paisagem carioca.
Essa linha parece um tecido de madeira, tem algum processo especial nestas peças?
Nem todas as peças dessa linha são feitas com o mesmo processo, mas tecnologias como corte a laser ou fresas computadorizadas são bem recorrentes na fabricação dessas peças.
Adoramos os pequenos detalhes do atelier, como a fachada e alguns objetos de decoração e maçanetas que são feitos com restos de madeira no processo de CLT (Cross Laminated Timber – laminados de madeira colados cruzadas). Contem mais sobre a preocupação do estúdio com o uso de materiais e processos sustentáveis.
Passamos os últimos meses construindo nosso novo showroom e fizemos isso com duas premissas em mente: utilizar ao máximo as sobras de material da nossa oficina para fazer o máximo de elementos como os puxadores, escadas, etc… Já vínhamos ampliando a utilização de nossos resíduos em trabalhos mais bidimensionais e relacionados à arte – trabalhos que tiveram uma enorme aceitação e ganharam bastante força no nosso dia-a-dia no ateliê.
Quais são os seus 3 trabalhos favoritos?
Essa é sempre uma pergunta muito difícil de responder porque gostamos de todos os nossos produtos – cada um nos trouxe um aprendizado diferente, cada um tem sua própria história. É mais fácil pensar nas séries: A Série Viralatas, nas quais fazemos fusões dos desenhos de outros móveis, traz alguns dos nossos trabalhos mais conhecidos como as Poltronas Pantosh, Temes e Regg.
A Série Cariocas, justamente, são as que têm a maior relação com o Rio como a Poltrona Ipanema, Poltrona Leblon, Mesa São Cristóvão…. Em geral, os trabalhos que mais gostamos são justamente os que trazem um conteúdo narrativo e cultural que extrapola os aspectos estéticos e funcionais.
Sites favoritos?
Tem alguns sites de receitas que usamos muito…. costumam salvar vários jantares… (rsrsrs). O site do Ted é incrível, com suas palestras de assuntos variados e surpreendentes…. estamos sempre vendo. Os sites que procuramos não acompanhar tanto são justamente os de tendências do design, porque justamente queremos fugir da armadilha de seguir tendências…. é mais divertido criá-las.
Quais artistas e designers vocês admiram?
É impossível não falar de Sergio Rodrigues, que tanto nos ensinou e nos deu força – um mestre. Mas entre tantos talentos e inspirações pelo mundo, citar apenas algumas parece injusto… vão alguns que nos vêm a cabeça agora… o artista belga Panamarenko, que cria máquinas para voar que raramente funcionam, James Turell que tem a luz como matéria prima, Andy Goldsworthy que trabalha com intervenções belíssima na natureza….
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