Lourenço Gimenes, do FGMF, e Clara Reynaldo, do CR2, buscaram soluções criativas e inteligentes para a construção da casa onde vivem com a filha Lia e o cão Bartolomeu. Discreta e integrada ao entorno, a residência conquista a admiração de quem circula pelo bairro de Pinheiros, em São Paulo.
De um processo a quatro mãos entre marido e mulher, ambos arquitetos, nasceu a casinha batizada de 4×30 – referência ao terreno com 4 metros de frente por 30 de profundidade no qual foi construída. Quando iniciaram o projeto, Lourenço Gimenes e Clara Reynaldo abraçaram a ideia de repensar a maneira como estavam habituados a viver e também o modelo convencional de uma residência familiar de classe média paulistana. “Antes morávamos em apartamento, mas queríamos estar mais conectados com a cidade. Construímos a casa do zero seguindo a premissa de integrá-la à paisagem urbana”, conta Lourenço.
O terreno bastante estreito exigiu soluções criativas e inteligentes que tornassem possível abrigar todos os cômodos necessários à família e ainda garantir a fluidez e a amplitude dos espaços. “Não queríamos uma residência óbvia e dentro dos padrões. Para isso, lançamos mão de ambientes integrados e eliminamos outros considerados obrigatórios”, conta Lourenço, que pesquisou as minúsculas moradas japonesas e holandesas para definir o programa e a planta. “Precisamos de bons espaços, e não de muito espaço. A minha casa é a comprovação disso”, diz.
Ao adentrar na casa, os visitantes são recebidos pela cozinha. É isso mesmo: a entrada é pela área de serviço, que aqui se torna protagonista, e não um ambiente a ser escondido como segue o modelo de residência convencional. O piso do cômodo foi rebaixado em 75cm, o que, além de aumentar o pé-direito, criou certa privacidade para o ambiente, sem desconectá-lo das outras áreas. “Todo mundo se surpreende quando entra. Criamos uma experiência diferente e isso é muito legal”, diz o arquiteto.
Segundo Lourenço, a ocupação do lote foi um dos principais condicionantes para o desenvolvimento do projeto. Da busca por iluminação e ventilação naturais surgiu a ideia do jardinzinho central. Unidos por uma passarela em torno do jardim, dois blocos de tamanhos diferentes organizam as funções da morada: o bloco maior concentra sala e cozinha no térreo e quartos no pavimento superior; o menor contém ambientes de apoio como área de serviço, escritório e a circulação vertical da residência.
“Conseguimos fazer com que o jardim, com uma enorme pitangueira, ganhasse importância e fizesse parte do nosso uso cotidiano, em vez de ficar subutilizado no fundo da casa. Desfrutamos do verde em todos os deslocamentos pelo interior”, conta ele.
Na residência vive também a pequena Lia, filha do casal, e o cachorro Bartolomeu. O quartinho dela é o ambiente da casa onde há a maior concentração de cores e objetos. “A Clara desenhou a caminha e o móvel que fica embaixo da janela, e colocamos o papel de parede que remete a uma floresta”, explica Lourenço. No espaço estão também brinquedos que estimulam a criatividade, como a mesa Bobina, cujo tampo tem um papel sulfite acoplado para servir de suporte para desenhos e pinturas, e a casinha de montar de madeira, um convite para a Lia mergulhar no universo profissional dos pais.
No restante dos ambientes a opção foi por revestimentos e acabamentos brancos, como estratégia para refletir a luz internamente na morada, e por poucos móveis e elementos decorativos.
“Damos muito valor ao espaço vazio. Temos basicamente sofás, cadeiras e mesa de jantar. Escolhemos apenas peças que gostamos muito”, diz ele. Entre os itens, estão objetos selecionados a dedo na Boobam, caso do vaso Hiato, de Desyree Nyedo; da bandeja Cortante e da mesa de centro Lena, ambas do Decarvalho Atelier; da luminária Esfera, do Tomada; da mesa de centro Baleia, da Carol Magliari; e da poltrona BM, do BM Estúdio. “Acho muito importante a democratização do acesso ao design e a valorização de jovens talentos nacionais; gosto bastante da proposta de negócio da Boobam”, comenta Lourenço.
No cenário predominantemente branco do interior se destaca a arte assinada por Fabio Flaks. Remetendo aos grandes painéis característicos da boa arquitetura moderna brasileira, a obra ocupa a empena lateral da casa e acompanha a circulação horizontal em todos os pavimentos. “O painel vai até a rua e pode ser visto por quem passar na calçada. A proposta vai de encontro com a maneira como pensamos os projetos no escritório. As construções são parte do contexto urbano e precisam dialogar não apenas com os moradores, mas também com todos que fazem parte da metrópole”, explica Lourenço, que optou ainda pela garagem aberta para a rua. “É mais um exercício de generosidade com a paisagem da cidade, frequentemente agredida pelos muros altos que refletem a paranoia da segurança e o delírio de privacidade que nega a própria urbanidade”, completa.
É por meio dessas pequenas ações, tidas como gentilezas urbanas, que a casinha pequena e discreta de Clara e Lourenço chama a atenção de quem passa na rua e conquista a admiração dos vizinhos, que podem ainda parar para colher uma verdura na horta montada pelo casal na frente da residência. “Acredito que atitudes como essas podem melhor a cidade como um todo”, finaliza o arquiteto.
Jornalista convidada: Flora Monteiro
Matéria exclusiva para o Blog Boobam
Fotos: Luiza Florenzano | Dir. de arte: Manoela Moura