Com nome de ator famoso, o advogado paulistano mudou o rumo da carreira e agora se dedica a desenhar móveis para o mercado brasileiro e internacional.

Com o mesmo nome de um dos mais famosos atores de Hollywood, o paulistano Leonardo Di Caprio está acostumado a lidar com a curiosidade que essa coincidência desperta. No início deste ano, foi procurado pelo site da Time para falar sobre o assunto. “A família do avô dele e a do meu pai são da mesma cidade na Itália, Trentola Ducenta. O pai do ator, aliás, se parece muito com o meu”, conta Leo, também escorpiano como o homônimo estrelado. As coincidências, porém, param por aí. Diferentemente do norte-americano que desde os cinco anos se dedica às artes cênicas, Leo mudou bastante sua trajetória profissional.
As joias de sementes indígenas inspiraram a coleção Ziggy, exposta em 2016 na Semana de Design de Milão. As duas mil peças cortadas a laser são montadas, uma a uma, usando a tradicional técnica da marchetaria.
Em 1999, graduou-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo, e trabalhou alguns anos em um escritório jurídico voltado ao mercado financeiro até decidir, depois de muita psicanálise, buscar novos caminhos. “Antes, fui transferido a Nova York para trabalhar num escritório associado, mas não aguentei uma semana. Era um ritmo louco, varávamos a noite e a pressão era absurda, estava infeliz. Saí de lá e viajei para encontrar meu irmão, que já vivia em São Francisco”, recorda-se.

Sem ainda descobrir a que se dedicar, Leo passou quatro anos morando entre os Estados Unidos, onde trabalhou em restaurantes, e a Itália. Estudioso e determinado como ele só, fez cursos de fotografia, filosofia, culinária, história da arte, design de interiores, design de produto. “Eu tinha muitas dúvidas, mas percebi que o que eu mais gostava era de design.”

Na volta ao Brasil, em 2006, chegou a advogar por um curto período até um amigo ajudá-lo a mudar seu destino. “Ele sabia da minha insatisfação com a advocacia e também do meu talento para design de interiores”, diz. “Acabou me indicando para dois executivos sul-africanos que vinham morar em São Paulo. Fiz a proposta e logo depois me vi com dois projetos de apartamentos de 400 m².”

Matriculou-se no curso de Design de Interiores da Escola Panamericana de Arte e, em um ano, já somava 12 clientes e uma publicação em revista especializada. Em 2011, estreou na Casa Cor Trio, ganhando o prêmio de projeto mais criativo pelo escritório que homenageava o diretor cinematográfico Carlos Saldanha.
Em 2013, seu Living na Casa Cor São Paulo chamou a a atenção do curador Waldick Jatobá, que o convidou a projetar o lounge da primeira edição internacional da Made (Mercado Arte e Design), durante a Semana de Design de Milão. O espaço, com peças escultóricas idealizadas por Leo, foi um sucesso e mereceu divulgação em vários sites e revistas estrangeiros.

A experiência aumentou o desejo de se dedicar à criação de móveis. “Sempre desenhei peças para os projetos, achei que era hora de transformá-las em produtos.” Criou a marca AuCap com o objetivo de atender o mercado externo. A primeira coleção, batizada Ziggy e inspirada nas joias indígenas, foi lançada, em 2016, em Milão. “Fiquei emocionado quando o arquiteto italiano Michele De Lucchi apareceu para me cumprimentar. Os itens foram publicados na Interni, na Domus, na Abitare, na Elle Decor, e expostos num museu em Cingapura e na Bélgica”, conta.

No ano passado, também durante a feira de Milão, Leo conheceu o designer norueguês Peter Leiros, ex-diretor criativo da loja de móveis Habitat, em Oslo. Ficaram amigos e surgiu a proposta de Leo desenhar para a marca Hus & Dimora, fundada pelos dois e que estreará em fevereiro na Noruega. A linha, composta de mesas de aço carbono com pintura eletrostática, foi apresentada pela primeira vez na Made, em agosto, no prédio da Bienal de São Paulo. “Essa produção nasceu aqui, mas temos intenção de fabricá-la na Europa”, conta ele — os modelos já estão sendo vendidos pela Boobam.

Cadeiras, estantes, espelhos e cabideiros também estão sendo desenhados pelo paulistano. “Para entender o mercado escandinavo, fiz uma imersão. Viajei a Noruega de ponta a ponta, li tudo o que podia sobre esse assunto, e ainda visitei a feira de design de Estocolmo, na Suécia”, diz. “Depois dessa pesquisa, entendi que o design escandinavo é racional e minimalista porque visa simplificar a produção e baratear o custo, me baseei nisso para idealizar essa coleção.” Os tons pastel seguem propositalmente a cartela de cores que mais faz sucesso na Escandinávia.


Outra novidade do designer é a linha de casinhas pets empilháveis de MDF. “Apresentei-as despretensiosamente na Made para ver a reação do público. A aceitação foi imediata e vendi os três modelos já no primeiro dia”, afirma.
As casinhas City remetem às construções urbanas. Com três modelos e dois tamanhos, elas são feitas de MDF revestido de melamina e dispõem de teto laqueado.
Sobre os planos futuros, Leo pretende continuar atuando no mercado de design de interiores, finalizar a outra coleção que apresentará em abril em Milão – um desdobramento da bem-sucedida linha Ziggy, e propor um mestrado sobre os iluministas da Escócia. Inquieto, estudioso e determinado, o paulistano Leonardo Di Caprio não sossega. “Sou curioso para entender o mundo”, afirma.
Entrevista por Regina Galvão
Fotos: Luiza Florenzano
Visite a loja do designer Leo Di Caprio na Boobam: