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Leo Capote: o designer inventor em 10 tópicos

O paulistano Leo Capote cria móveis e objetos que surpreendem pela originalidade e pelo uso inusitado de materiais: martelos, balanças e porcas viram matérias-primas para cumprir novas funções.

Em 2007, a revista &Fork, da renomada editora inglesa Phaidon, considerou Leo Capote um dos cem promissores designers da atualidade.

Como tudo começou…
“Eu nasci em São Paulo e cresci no bairro de Santa Cecília, onde foi fundada a loja de ferragens do meu avô há mais de 60 anos. Minha mãe cresceu na loja e eu também. Aprendi a consertar eletrodomésticos, fazer extensão, arrumar abajur. Trocava informações com os clientes: engenheiros, arquitetos, serralheiros, eletricistas… fui aprendendo com eles. Aos 12 anos, montei minha própria oficina na garagem de casa. Meu design nasceu dessa experimentação, de fazer coisas e ver no que elas resultariam.”

A oficina relembra o cenário da loja de ferragens que o designer herdou do avô, em Santa Cecília.
Antonio Carlos, o Cacá, ajuda Leo a pôr de pé suas invenções.

Aprendizado com os Campana
“Fernando e Humberto sempre frequentaram a loja, e me viram fazendo um pouco de tudo por lá. Quando Humberto descobriu que eu cursava design industrial, pediu a meu avô para eu fazer estágio com eles. Fiquei de 2000 a 2002 no estúdio, ia de manhã e, às vezes, de tarde, pois estudava à noite. Nessa época, eles estavam começando a desenvolver a linha Sushi e fazíamos junções de materiais, uníamos pedacinhos de tecido, de plaquinhas. Com os Campana, aprendi como conceitualizar e construir uma ideia, e a acreditar que, por mais diferente que um projeto possa parecer, ele pode funcionar. O estúdio deles serviu como uma escola para mim.”

Nas prateleiras da oficina, parafusos, porcas e pregos são armazenados em vidros de conserva.

A estreia
“A cadeira Colher foi minha primeira peça de sucesso e ela nasceu no Estudio Campana, quando eu tinha 20 anos. Usei uma estrutura que havia no depósito deles e fui encaixando as colheres. O Marco 500 representava os Campana naquela época, viu a cadeira e se interessou em vendê-la, mas me pediu mais peças com o mesmo conceito. Eu não soldava como hoje e não tinha ferramental suficiente, mas fiz painel, porta-retrato, luminária de colheres e garfos. As publicações começaram a divulgar o produto e a linha chamou atenção. Dei até entrevista no programa da Hebe Camargo.”

Cadeira Colher: a criação rendeu até entrevista no programa da apresentadora Hebe Camargo.
Detalhe dos encaixes da cadeira Colher, lançada em 2001 e que leva mais de 200 colheres de sopa em sua produção.

Arte x indústria
“Eu cursei a Unip (Universidade Paulista) e, na faculdade de design industrial, prega-se a produção em série e eu desejava fazer algo diferente. Faço, aliás, até hoje. Sempre teve a turma de alunos que considerava os Campana artistas e não designers. Lembro-me de a coordenadora do curso insistir em mostrar esses dois caminhos e chamar a atenção para esse outro lado do design. Eu já tive experiência industrial, mas, para desenhar apenas para a indústria, teria de focar só nisso e não continuaria com a oficina. É uma outra proposta e eu já tenho um trabalho de forte identidade. Achar o equilíbrio ente o design-arte e o industrial é um aprendizado constante.”

Ainda um protótipo: o banco com assento de bolas de bilhar e rodízios.

Inspiração e garimpo
“Ela vem de qualquer coisa, desde um briefing até um simples objeto. A luminária de ferro de passar roupa, por exemplo, que saiu em mais de 30 publicações, aconteceu por um pedido da minha tia. A luminária de cabeceira quebrou e ela me pediu para colocar algo que a prendesse. Pensei: vou usar um ferro de passar e, quando ligar o botão do ferro, a luminária acenderá. Fiz mais de 15 peças e teve até um trabalho de conclusão de curso na Polônia a partir dessa ideia. O aluno batizou o produto com meu nome e construiu uma luminária até melhor do que a minha. Tudo pode virar inspiração, só depende do projeto. Faço de pingente de chaveiro a praça. Já fui também de garimpar caçambas. Agora, bem menos. As pessoas se lembram de mim e mandam peças pelo correio ou as levam na loja: coroa de bicicleta quebrada, balança, tesouras. A cadeira Balança surgiu por causa de um amigo. Ele não deixou o pai jogar fora a balança que a avó usava para fazer bolos e pães. Transformei-a numa supercadeira, e fizemos uma e depois outra… meus projetos têm forte impacto nas pessoas.”

Em diversas versões, a luminária com base de ferro de passar roupa virou tese na Polônia.
A balança usada pela avó de um amigo conquistou status de cadeira.

Porcas viram mobiliário
“A ideia da série de porcas surgiu num ferro velho, onde havia muitas delas. Decidi levar todas e ver depois o que faria com elas. Isso foi em 2013 e eu estava aprendendo a soldar. Fiz uma cadeira e mostrei para o Waldick (Jatobá, atual curador da Made), que adorou a peça. Ele era curador da Firma Casa nessa época e levou a dona da galeria para ver meu trabalho. Ela gostou e quis expor a coleção. Foi um sonho realizado, eu só havia estado lá no lançamento da linha Sushi, dos Campana. Essa coleção de porcas originou cerca de dez móveis: tinha a Egg, a Saarinen e a Panton… as peças foram para a Mostra Black e as revistas divulgaram bastante. Participaram também de exposições, em Nova York e no México. Até hoje, recebo ligações de gente do mundo inteiro procurando a poltrona Egg de porcas.”

As porcas compradas em um ferro velho renderam uma grande coleção: de descanso de mesa a mobiliário.

Outra Oficina
“O Marcelo (Stefanovicz) e eu nos conhecemos desde 2008, executando design gráfico para arquitetos e empresas. Ele é muito bom com computador e eu mal leio meus e-mails (risos). Em 2013, saí da garagem da casa da minha mãe para fundar a Outra Oficina com ele neste galpão, usado pelo Marcelo como estúdio fotográfico. Queríamos trocar ideias, unir nossas expertises para expandir a capacidade de criação e de produção. Fizemos várias peças juntos e aprendi bastante com ele, assim como ele aprendeu comigo. Agora, ele quer se dedicar a outros projetos e eu voltarei a criar sozinho, dando continuidade ao meu processo de trabalho.”

Leo (à esq.) e Marcelo Stefanovicz fundaram a Outra Oficina em 2013. Recentemente, a dupla decidiu se separar para que Marcelo possa se dedicar a outros projetos.
Correntes de motocicleta foram reaproveitadas como cabides.

Desafios recentes
“Na oficina, desenvolvemos projetos próprios e também criamos coisas específicas para arquitetos. No momento, estamos fazendo os balcões para o bar Arcos, do Theatro Municipal de São Paulo, com o escritório MM18. Usaremos vergalhão de construção e vidro jateado, tudo feito num processo muito manual. Fabricamos também o mobiliário e os espelhos de uma hamburgueria na Lapa, a Brasa Burguer, e um lustre para uma nova marca de design corporativo, a Minimal. Essa peça derivou da experiência com a galeria Nicoli, onde expusemos a coleção Tetraedro, de formas espaciais construídas com pregos.”

Coleção Tetraedro Pregos, feita em parceria com Marcelo Stefanovicz, sua dupla na Outra Oficina.
Espelho Tesoura, assinado pela Outra Oficina, uma das peças a serem leiloadas em dezembro em Paris.


Mercado externo
“Este ano fui convidado a participar da Bienal de Veneza, mas não consegui patrocínio. Estou tentando para o próximo ano. Nos cinco países em que expus, o impacto causado pelas minhas peças foi imediato. Em 2012, viajei para a Design Day Dubai com o Coletivo Amor de Madre e, em 2015, para Miami, onde fui selecionado como risign talent pela Maison Objet. Percebo que o estrangeiro tem outro olhar para o design, valoriza o que eu faço. A mesa Picareta foi leiloada no ano passado, em Paris, e o mesmo leilão escolheu o armário Colher, a cadeira Panton de porcas e o espelho Tesoura, da Outra Oficina, para a próxima edição de dezembro, que também acontecerá na capital francesa. A cadeira Machado foi para a Expo Milão, em 2015, ambientar o café do Pavilhão Brasil e vendeu onze modelos por lá. Para a Art Basel, em dezembro em Miami, estou criando uma peça única que será exposta pela galeria Memo, do Rio de Janeiro.

A cadeira Colher originou outras peças, como este armário concebido a partir da mesma ideia.
A mesa Picareta foi leiloada no ano passado em Paris.
Três picaretas sustentam o tampo de vidro da mesa de mesmo nome.
A cadeira Machado, outro item de edição limitada, foi exposta durante a Expo Milão, em 2015.

Mercado interno
No Brasil, também tem aparecido boas oportunidades com galerias e exposições. O surgimento da Made (Mercado Arte e Design), em 2013, foi marcante para nosso trabalho, ampliando o mercado de design-arte e criando a oportunidade de os estúdios mostrarem os trabalhos ao público. Temos mais de 600 produtos e agora estamos experimentando vender também pela internet. A Boobam tem sido uma experiência muito válida ao nos mostrar o que funciona e o que não funciona no mercado online. Já vendemos peças que não acreditávamos ter sucesso pela web.”

Pás de pedreiro viraram bancos de várias cores. Este item você encontra à venda na Boobam.
Pregos dão origem a formas geométricas transformadas em pendentes na coleção desenvolvida com Marcelo pela Outra Oficina.

Por: Regina Galvão
Foto: Luiza Florenzano

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