O publicitário Bernardo Magalhães transforma a sua coleção pessoal com mais de 200 peças de design moderno brasileiro em acervo da recém-inaugurada marca Jaca.
Há dez anos, Bernardo coleciona objetos que têm o jacarandá como matéria-prima. Nossa mais nobre madeira, que foi suporte para a expressão de grandes designers brasileiros e escandinavos nas décadas de 1950 a 1970, assume a forma de bandejas, revisteiros, cestos, bowls, castiçais, fruteiras, entre outros, na coleção do Jaca. São mais de 200 itens assinados por nomes importantes como Jean Dobré e Jean Gillon, e também por “ilustres anônimos que, sem dúvida, mereceriam estar no hall da fama do nosso design”, brinca ele.

“A premissa do acervo sempre foi o bom desenho. Adquiro peças de autoria anônima com o mesmo entusiasmo que capto peças do Gillon, se reconhecer no objeto uma forma original e uma execução impecável”, explica ele.

A paixão de Bernardo pelo universo do mobiliário brasileiro começou quando ele estava construindo o seu primeiro apartamento ao lado da mulher, a estilista Michelly Valentim. “Na hora de decorar a casa, nos encantamos pelo sofá Mole, de Sergio Rodrigues, e decidimos comprar um. Acabamos, depois de um super esforço financeiro, conseguindo. E o melhor de tudo: direto das mãos do Sergio, no ateliê dele. Era uma reedição, produzida da Lin Brasil. Foi uma experiência incrível e definitiva para o início do meu encanto pelo o jacarandá. Foi no ateliê do Sergio que conheci toda a sua produção e sua paixão pelo jacarandá”, conta. Na época, o publicitário tinha apenas 28 anos, e comprar móveis modernos era caro. Ele optou então por raridades menores, os objetos de jacarandá.

De lá para cá, o acervo só cresceu. E isso só foi possível graças à parceria de mais de 17 anos com sua mulher. “Não fosse a parceria dela – potente, sólida e que fica mais bela com o tempo, assim como o jacarandá de que tanto gosto – não seria possível. Imagine um colecionador com mais de 250 peças em um apartamento de 80m2. Se não tivesse o entusiasmo dela não rolaria”, brinca ele.

A decisão de criação do Jaca veio aos 40 anos. Bernardo, que sempre alimentou a ideia de viver ainda mais esse mercado, teve a intenção potencializada pelo sonho de construir uma casa na região serrana do Rio de Janeiro. “Vender as peças para me capitalizar para a realização desse desejo me pareceu uma alternativa nobre, pois conciliaria o exercício de uma paixão com um propósito de vida maior”, lembra. O plano do projeto com prazo de validade curto, contudo, foi contrariado pelo entusiasmo de seu fundador ao experimentar uma nova relação com o mercado.

De comprador a vendedor novas e inspiradas relações foram criadas. Uma mudança que permitiu aprofundar as relações com todo o ecossistema do mercado – garimpeiros, restauradores e os próprios lojistas de quem ele era cliente – e experimentar o entusiasmo das pessoas – muitas estavam se relacionando pela primeira vez com essa expressão de design.

Batizada de Jaca – a forma como os apaixonados por jacarandá referem-se à madeira–, a marca é a única do mercado nacional especializada na comercialização exclusiva de objetos e utilitários de design moderno.
“As peças trazem histórias repletas de alegria. Fizeram parte de momentos especiais – jantares e festas nas décadas de 50 a 70. E, agora, podem seguir cumprindo sua vocação. É muito bacana pensar que, além de peças raríssimas, com design de qualidade incontestável, nosso acervo carrega histórias de alegria e brasilidade. Brinco que nossas peças devem servir aos olhos – porque são objetos de design e de arte incríveis – mas, também devem servir à alegria, porque merecem inspirar cotidianamente momentos especiais com quem queremos bem”, diz ele.



Bernardo reconhece ainda a importância de outras marcas de mobiliário moderno para o mercado e para a inauguração do Jaca. “Tenho uma parceria histórica com o André e a Vivi, da galeria Apartamento 61, onde participei recentemente da exposição “Natureza Esculpida”, com peças do Jaca. Eles me apresentaram os objetos de jacarandá e me inspiraram com seu ponto de vista original”. Bernardo destaca também as lojas de mobiliário moderno e vintage Pé Palito e Teo. “O Lúcio e a Cláudia, da Pé Palito, e o Teo me apoiaram e viabilizaram a minha paixão desde sempre, colaborando para que eu pudesse, aos poucos, adquirir e me relacionar com esse universo”, conta.

Decisivo para a trajetória do design nacional, o período moderno foi o momento em que arquitetos e designers traduziram o melhor do que estava sendo feito no mundo em algo totalmente original e brasileiro. “Foi um grito de identidade nacional gigantesco”, afirma Bernardo. Admirada e festejada internacionalmente, grande parte da produção assinada do período está fora do Brasil, principalmente a de Jean Gillon – expressão máxima em objetos de jacarandá no país. “O colecionismo cumpre assim um papel nobre de repatriar o design brasileiro”, define.

Não à toa, Bernardo faz uma curadoria criteriosa para o acervo do Jaca. “Conto com uma rede maravilhosa de garimpeiros, pessoas que sabem o tipo de produto que considero atraente e com quem pretendo, cada vez mais, construir uma relação ganha-ganha”, diz. Além das aquisições recentes, motivadas pela ampliação do acervo do projeto, ele tem também raridades fruto de garimpos realizados na época em que viajava o mundo na condição de colecionador.

Antes de colocar à venda, os itens passam por um processo minucioso de restauro. “Estou estudando e pesquisando muito para poder assumir totalmente essa etapa, pois acredito que é uma forma de imprimir ainda mais qualidade ao acervo”, conta ele. Quem também coloca a mão na massa são as suas filhas Maria e Ana, que gostam de lustrar os objetos do acervo ao lado do pai.


Com venda exclusiva na Boobam, Bernardo vê a abertura da loja na plataforma como uma oportunidade de criar um diálogo entre a produção moderna e a contemporânea, que ainda hoje se inspira no design das décadas de 50 a 70. “É a chance de aproximação dessa importante produção do nosso design, mas não tão conhecida pelo público”, diz. A ampliação da conversa sobre consumo consciente, fruto da reutilização de peças vintage, também o motiva bastante o fundador da marca. Na loja estarão disponíveis castiçais, bandejas, cestas, bowls e petisqueiras, entre outros objetos que podem ser o ponta pé inicial para uma coleção de design moderno.
“Eu comecei meu acervo com essas pequenas raridades. Será incrível ver o Jaca proporcionando isso a outras pessoas”, finaliza ele.
Visite a loja Jaca na Boobam:
Jornalista convidada: Flora Monteiro
Matéria exclusiva para o Blog Boobam
Fotos ensaio: Eduardo Magalhães | Dir. de arte: Manoela Moura
Fotos editorial: Renan Lima
Parabens pelo acervo, Detalhe tenho alguns moveis de jacaranda dos anos 60. 70.
Se ouver interesse fico a disposição.
Grato pela atenção.
Delcio