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Entrevista | PAULO ALVES

A infância no interior, o legado de Lina Bo Bardi, os fundamentos da marcenaria artesanal e a inspiração na arte concretista se misturam na obra de Paulo Alves. O designer nos recebeu em seu showroom e nos contou sobre a sua trajetória e curiosidades sobre a sua produção. Confira a entrevista completa:

Você sempre soube que seria um designer? Fale um pouco sobre a sua trajetória.
Nunca me imaginei como designer no princípio. Comecei a estudar engenharia, logo depois percebi que o ensino rígido não era apropriado para o que eu buscava, naquela época já modifiquei minha carreira para arquitetura. Após alguns anos de estudo, ainda na universidade, me deparei com o trabalho de Lina Bo Bardi através de uma palestra.  A visão dela era impressionante e era algo que eu buscava.

Decidi vir para São Paulo para trabalhar no escritório dela. Pouco tempo após ingressar na equipe, ela faleceu e eu fui um dos responsáveis pela compilação da obra de Lina, onde ela se aventurava, com muito sucesso, por diversos campos. O mobiliário me chamou a atenção e comecei a desenvolver alguns trabalhos, a partir daí não parei mais com o mobiliário e a madeira.

Você já tem 20 anos de carreira. O que mudou no design de móveis brasileiro nesse período?
No início de minha carreira, junto comigo, diversos designers também começaram a trabalhar no mobiliário. Depois de 20 anos percebi que somente sobreviveram aqueles que colocavam a mão na massa, conheciam a matéria prima e faziam o trabalho de ponta a ponta. Isso foi uma das grandes lições que aprendi ao longo dos anos nesse ofício, é necessário estar junto da produção, o olhar atento do dia-a-dia que faz a diferença e libera a criatividade para desenvolver peças e soluções de uma maneira diferente.

Em relação ao design propriamente dito, o mercado cresceu e evoluiu junto com o design brasileiro. Sustentabilidade sempre existiu para nós designers, apenas não chamávamos com esse nome. A briga incessante do designer contra o desperdício, com soluções criativas para questões de produção, economia de materiais, aumento da vida útil dos produtos e eliminação da obsolescência planejada sempre foram metas a se respeitar. Tudo o que pregamos anos atrás veio à tona nos últimos dez anos e isso é importante para os criadores e para os consumidores. Acredito que as pessoas estão mais conscientes do que é o design, sua importância para o mercado e como ele pode ser usado para melhorar nossa vida.

 

Como é a sua rotina e o seu processo criativo?
Fico entre o meu estúdio na Vila Madalena e a fábrica, no centro de São Paulo. São nessas viagens, entre um café e outro, que rabisco em algum guardanapo uma peça que está em minha cabeça. As vezes busco inspiração em algum objeto que vi, outras em bancos feitos por artesãos ou simples soluções do cotidiano que muitas vezes aparecem de pessoas que não são designers. Ver o uso cotidiano das peças que crio também me mostra possibilidades de melhoria ou me dá novas ideias.

Meu material preferido é a madeira. São mais de 11.000 espécies no Brasil, com possibilidades infinitas. Gosto de me aventurar com estruturas leves, madeiras alternativas, testando novas cores, combinações e aprendendo como cada espécie funciona melhor. Testei recentemente outros materiais, como mármore e plástico, mas sempre acredito que é o calor da madeira que fomenta mais minha criatividade.

Um aspecto importante do seu trabalho?
Compreender o usuário e as pessoas que vão viver todos os dias com as minhas peças é o mais importante. Por isso me debruço horas e horas sobre a ergonomia das peças, conforto, usabilidade, leveza e demais aspectos. Quando penso na origem daquela matéria-prima e no que vou transformar é impossível não pensar em diversos aspectos como sustentabilidade através do desenho.

A cadeira Atibaia, por exemplo, utiliza delgados sarrafos de madeira catuaba, chegando ao limite estrutural. Isso é importante pois valoriza todo o processo, desde a extração até o produto final.

Quais artistas e designers você admira?

A melhor e pior parte de ser um designer?
Melhor parte é ver o trabalho reconhecido e poder, a partir de um desenho de uma peça, mostrar outros pontos de vista para as pessoas, inspirar estudantes, acrescentar ao design nacional e, juntamente com todos os outros designers, levar o design brasileiro para o mundo. A pior parte é ver uma produção desenfreada, tantos produtos nocivos para o meio ambiente, ou até mesmo cópias descaradas de grandes designers e, indiretamente, prejudicando o que levamos tantos anos para construir.

Os maiores desafios de comercializar os seus trabalhos no Brasil?
Pelas dimensões do nosso país a maior dificuldade é a logística, levar o meu trabalho para os 4 cantos de uma forma acessível.

Uma dica que você gostaria de ter dado para o Paulo Alves bem no início da carreira?
Ouse mais.

Sites favoritos?
www.designboom.com
www.archdaily.com
leibal.com
casavogue.globo.com
bamboonet.com.br

Quais são os seus 3 trabalhos favoritos?

O Buffet Cercadinho nasceu do reaproveitamento de diversas madeiras geradas na produção de outras peças (cumaru, ipê, catuaba, freijó, marfim) onde tive a ideia de produzir um painel com essas madeiras.

A cadeira Atibaia falei um pouco acima, foi um estudo de uma estrutura super leve até chegar na cadeira final. Fiz (junto com o Luís Suzuki) diversos protótipos para testar a ergonomia, vários modelos de braços até concluir a peça, que foi a vencedora do primeiro lugar do prêmio Museu da Casa Brasileira.

A poltrona Gilberto nasceu do pedido de várias pessoas, elas queriam uma poltrona que pudessem se esparramar, com estofado de tecido ou couro. A partir de alguns projetos comecei a desenvolver o protótipo da poltrona, que foi finalizada algum tempo depois, porque o desenvolvimento do estofado foi o mais trabalhoso.

Projetos futuros?
Alguns já em mente, amadurecendo um pouco as ideias para logo mais transformar em realidade.


Visite a loja do Paulo Alves na Boobam:

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