Em sua 28ª edição, a mostra de decoração reúne 42 ambientes assinados por 72 arquitetos, paisagistas e decoradores em edifício na Glória, no Rio de Janeiro.
Os espaços de metragens variadas convidam o público a refletir sobre formas de morar e trabalhar que melhor atendam às demandas da vida atual. Nesse contexto, coliving, estúdios, apartamentos feitos sob medida para ele (de um lado) e para ela (do outro) e coworking são algumas das propostas de ambientes. Segundo Patricia Quentel, sócia-diretora do evento, estamos vendo nascer um novo modelo de sociedade em que a generosidade e o compartilhamento são cada vez mais necessários.

Como fio condutor de todos os projetos está o tema “A Casa Viva”, que desafiou os profissionais a criarem espaços harmônicos com a natureza e adequados à socialização e convivência. Confira a seguir alguns destaques da mostra e o bate-papo com os autores dos ambientes!
Refúgio Urbano, por Bruno Carvalho e Camila Avelar, do BC Arquitetos
Com paredes de vidro, a casa incorpora a pedreira e a vegetação do terreno, criando uma relação muito próxima com o paisagismo de Daniel Nunes. Os ambientes, integrados ao terraço com piscina de borda infinita, têm tons neutros, com madeira revestindo o piso e as paredes que dividem cozinha, banheiro e closet. Móveis de design moderno e contemporâneo são usados ao lado de peças vintage.

Qual o destaque do ambiente? A integração entre interior e exterior norteou o conceito do espaço. Criamos um layout modular, com grandes aberturas em todo o entorno da casa por meio de esquadrias de alumínio com pintura especial preta ebanizada. Valorizamos também o uso de materiais naturais.
Quais os recursos utilizados para definir a circulação no espaço? Muita integração, sem criar barreiras entre os cômodos. O layout aberto proporciona uma vida mais conectada e um dia a dia mais prático.

Como foi a seleção de mobiliário? Design foi uma das premissas para o nosso interior. Escolhemos peças que conversem com a arquitetura e entre si, criando assim um ambiente harmônico, com uma narrativa delicada e poética.

De que forma o projeto traz a identidade do trabalho de vocês? Com muitas peças de design e madeira, que é nossa marca registrada.
O que define um bom projeto de arquitetura e interiores? Ser único e autêntico, seguindo traços limpos e atemporais. Obras de arte e peças de design devem ganhar destaque na decoração. Para os nossos projetos, seguimos a essência de uma arquitetura minimalista, definida por proporções equilibradas na escolha dos materiais.

Suíte da Mulher, por Gisele Taranto
A suíte atende as demandas de uma mulher que escolheu preservar o seu próprio espaço, compartilhando com o companheiro somente as áreas sociais e de serviço. No mobiliário, há peças criadas com inspiração em consagrados designers brasileiros e também móveis originais de alguns deles. A seleção de tecidos foi feita pensando na sensação do toque, com veludos, algodões, linhos pré-lavados, lã e tricô.

Qual o propósito do ambiente? Queremos pensar e discutir como as mudanças de comportamento estão influenciando nossos lares. Neste momento histórico do empoderamento feminino, idealizamos esta morada para uma mulher que escolheu sabiamente preservar o seu próprio espaço, sua história e suas manias. Ela é intelectual, segura, divertida, ousada, exótica, elegante, perua e sexy, quando quer.
O que inspirou o projeto? O ponto de partida foi o trabalho apresentado este ano pelo Google na semana de design de Milão, chamado Softwear. O objetivo da exposição foi questionar o papel que a tecnologia terá no nosso dia a dia no futuro. Este tema já tinha sido explorado pela revista italiana Elle Decor com a exposição Soft Home, na Feira de Milão em 2016. A mostra apresentou peças de design animadas por uma tecnologia sofisticada e intuitiva.

Como a tecnologia está mudando nossa casa? A tecnologia está suavizando a barreira entre o trabalho e o lazer. Com isso, o toque passou a ser fundamental. A experiência da casa passa agora pelo viés da “casa ninho”. Embora o tempo que gastamos conectados na internet receba muitas críticas, não podemos ignorar que é uma realidade. E foi justamente esse “tempo” um dos fatores que colaborou para que as pessoas ficassem mais em seus lares.
De que forma o projeto traz a identidade do seu trabalho? O principal ponto é a pesquisa. Não gosto de seguir tendências, gosto de estar atenta a comportamentos e a tudo o que me cerca. Outro ponto é o trabalho em equipe. Reconheço meus limites e busco trabalhar com pessoas que irão somar e complementar – caso da Vanda Klabin e do LD Studio neste projeto.

Fachada, por Ivan Rezende
O edifício que abriga a CASACOR Rio é a antiga sede do grupo Monteiro Aranha, construído na década de 1920. Ivan Rezende revitalizou a fachada destacando a volumetria da construção. O painel metálico Geoclad, da Hunter Douglas, reveste parte do prédio e permite variados graus de ventilação e de luz natural, como um brise-soleil. O projeto inclui jardins verticais assinados por Sandro Ward.

Qual o conceito do projeto? Apresentar o processo de revitalização de uma fachada na qual uma nova pele contemporânea cria um diálogo com a arquitetura original do prédio, deixando transparecer as potencialidades de convivência entre dois tempos arquitetônicos. Estar na Ladeira da Glória é inspirador, nos remete à história urbana da nossa cidade, nos faz compreender que é possível conviver com o traçado urbano de um passado e pensar na contemporaneidade e no futuro. E, para completar, nos permite admirar por entre rasgos de céu, a paisagem exuberante do Rio de Janeiro.
Qual a importância do projeto para o edifício como um todo? Fizemos a fachada e o acesso ao prédio. Logo, especificamos materiais com durabilidade e impacto visual, mas que não agridam o entorno. Criamos um espaço com sombreamento para melhor conforto ambiental, e uma iluminação que valorize o imóvel, enfatize a volumetria, atenda aos fluxos de pessoas e contribua para uma experiência de permanência no local, sem, contudo, desequilibrar a harmonia urbana.

O que a fachada tem de mais especial? O projeto segue conceitos nos quais acreditamos e sobre os quais nos debruçamos, buscando uma reflexão não estagnada: uma arquitetura para ser vivida. Valorizamos a volumetria do prédio existente, a partir do uso de materiais naturais e industriais num diálogo de transparências e opacidades.
O que não pode faltar em bom projeto de arquitetura? Pensamento e reflexão, além de compromisso com o entorno.
Sala Carioca, por Marcia Müller e Manu Müller, do M3 Arquitetos
O living multifuncional, pensado para um casal maduro, reflete o estilo de vida carioca. No ambiente, o piso é de tábuas de concreto, as paredes de madeira de reflorestamento e os móveis de designers brasileiros modernos. Peças pontuais de época trazem afeto à decoração e a paleta de tons verde predomina no espaço com o intuito de agregar bem-estar.

Como definem o estilo de vida carioca? É tropical, elegante, despretensioso, sofisticado e espontâneo. O carioca gosta de espaços com muita luz natural e natureza.
Qual a importância do tapete para o espaço? O tapete aquece e colore o piso. Deixa o ambiente mais aconchegante e é um bom recurso para criar uma sensação de amplitude.


Como foi feita a seleção de mobiliário? Apostamos em móveis versáteis e multifuncionais. O sofá modular permite novas experimentações de layout ao living, a sala de jantar pode funcionar como ambiente de trabalho, a mesa da copa pode ser usada de aparador. Os espaços e móveis não são estáticos e definidos para dar mais liberdade aos moradores.
Como o espaço atende as demandas da vida contemporânea? Os ambientes são integrados e multifuncionais, pois as pessoas hoje querem estar conectadas e ter uma casa prática. A divisão convencional de cômodos, com áreas com funções bem definidas, já não corresponde as demandas atuais. Os projetos precisam colocar as pessoas no centro de todas as questões e soluções.

Loft do homem, por Maurício Nóbrega
O layout neutro destaca a coleção de fotografias do morador. Na sala de estar, a estrutura de marcenaria delimita os espaços e cria um laboratório fotográfico analógico. A cozinha e banheiro ficam ao ar livre, com um pergolado de madeira que permite a entrada de luz natural. O jardim vertical é assinado pela paisagista Daniela Infante.

Qual a ideia do ambiente? A proposta da CASACOR foi ter dois lofts vizinhos habitados um pelo homem e o outro pela mulher, um modelo de casamento que mantém a privacidade e a individualidade do casal. O meu ambiente é o do homem, um fotógrafo amador e colecionador de fotografia brasileira.

O que caracteriza esse espaço? Dimensões comuns, nada gigantesco ou fora do padrão atual de moradia. Os espaços são integrados e a natureza bastante presente. Os revestimentos e materiais são práticos e de fácil manutenção.
Quais as soluções encontradas para garantir o bom aproveitamento dos espaços? O apartamento térreo tinha muitos pilares atrapalhando o layout. A solução foi tirar partido deles para criar cantos e detalhes inusitados.


Como a identidade de seu trabalho aparece no espaço? Por meio da simplicidade do layout, uma sofisticação despretensiosa. A opção por poucos móveis e muita história contada através dos objetos e obras de arte também caracterizam o meu trabalho.

Vista Bistrô, por Paula Neder
A paisagem foi a inspiração para o projeto. Paula aposta na mistura de cores e materiais, com um mix de revestimentos e mobiliário variado em tons de verde, rosa, cinza e madeira. O painel de azulejos hidráulicos e madeira do Coletivo MUDA reveste a parede e faz referência à arte urbana. Destaque para o projeto luminotécnico, com lâmpadas defletoras salpicadas no teto e na parede do bar, e para as estantes, desenhadas especialmente para o espaço.


Como surgiu a ideia para o projeto? A partir da constatação da vista exuberante do Aterro do Flamengo e da Baía de Guanabara. Pensamos que o espaço deveria ser suave para não competir com essa paisagem, mas também marcante. Escolhemos um painel do Coletivo MUDA e criamos estantes para expor itens que trazem história.
Como definiram a paleta de cores? Usamos tons que estão presentes na natureza, o rosa claro do nascer e do pôr-do-sol, verde suave e pontos de azul e cinza. É fácil notar que há cor, mas elas não disputam atenção com a vista.



Como o projeto de interiores atende as funcionalidades do bar? Criamos uma bancada funcional, com cuba para lavagem e cuba reservatório de gelo, e uma bancada de atendimento mais alta, na qual usamos banquetas bem confortáveis para os clientes. Desenhamos estantes que emolduram a janela de vidro fixo para bebidas e copos. A luz que entra é confortável tanto para quem trabalha, quanto para quem usufrui.
Como a arquitetura impacta na experiência das pessoas em um bar ou restaurante? Ela precisa trazer equilíbrio entre uma discreta excitação e a calma. É bacana que o ambiente gere interesse e contribua com a atmosfera do lugar e da cozinha que é servida.

Estar do coliving, por Jairo de Sender
Tendência nas grandes cidades, a moradia coletiva com áreas compartilhadas, além de sustentável, possibilita a conexão com o outro. Com isso em mente, Jairo de Sender projetou o living multiuso, com áreas integradas e amplas para ler, assistir TV, estudar e trabalhar. O mix de cores e texturas do mobiliário, estofados e revestimentos cria uma atmosfera autêntica e aconchegante.

Os revestimentos das paredes são bem marcantes no projeto. Como foi a escolha deles? O papel de parede com referência Art Déco e o teto com pintura texturizada dourada contrastam com a marcenaria moderna em laca nos tons nogueira e dourado. Já as paredes do corredor e do lavabo revestidos com veludo fazem um contraponto aos pôsteres lambe-lambe com releitura satírica de pinturas renascentistas, um toque irreverente.
O que mais chama a atenção no espaço? A arte provoca impacto, como a escultura suspensa de Ildeu Lazarini com 29 mil alfinetes. Na bay-window, com jardim de orquídeas pendurado no teto, a manequim de loja sentada vira luminária com uma cúpula de abajur na cabeça.

Qual foi o critério para a escolha do mobiliário? O mobiliário passeia pelo verde musgo, azul marinho e bege e foi selecionado com a intenção de agregar conforto, praticidade e funcionalidade ao ambiente. O tapete desenhado por mim tem forma orgânica que enobrece o espaço.
Como o projeto atende as demandas da vida urbana contemporânea? Nos dias de hoje espaços compartilhados possuem grande potencial, pois se adaptam às novas realidades do mundo moderno, que visa a diminuição de custos e uma boa qualidade de vida.

Visite o Casacor Rio de Janeiro
Até 04 de novembro de 2018
De terça a sábado, das 12h às 21h
Domingo, das 12h às 20h
Propriedade do Grupo Monteiro AranhaLadeira de Nossa Senhora, 163 – Glória
Entrevista por Flora Monteiro
Fotos: André Nazareth